O tradicional Jockey Club de São Paulo, símbolo de elegância e história há 150 anos, enfrenta uma crise sem precedentes. Endividado em cerca de R$ 800 milhões, o clube agora é alvo de um suposto esquema de desvio de recursos públicos, segundo investigação exclusiva publicada neste domingo (19) pelo UOL.
De acordo com o levantamento, R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais destinados à restauração da sede tombada, às margens do rio Pinheiros, podem ter sido malversados.
No centro da polêmica está Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB e pré-candidato ao governo de Goiás em 2026.
Entre 2018 e 2025, o Jockey captou R$ 22,4 milhões via Lei Rouanet (incentivo federal à cultura) e R$ 61,2 milhões pelo TDC (Transferência de Direito de Construir, instrumento municipal voltado à preservação de patrimônio histórico). No entanto, notas fiscais obtidas pela reportagem indicam duplicidades, gastos irregulares e até empresas fantasmas.
Um dos casos mais graves envolve R$ 11,2 milhões pagos à construtora Vidal, sediada em Goiânia — uma empresa que só existe nas redes sociais, sem sede física ou responsáveis localizáveis.
A apuração também encontrou despesas pessoais pagas com verba pública, incluindo jantares com vinhos importados, hospedagens em hotéis de luxo, compras em farmácias e até pagamento de condomínio. Além disso, há registros de aluguel de gerador no valor de R$ 2,3 mil destinado a Santo Antônio do Descoberto (GO), cidade sem qualquer ligação com o projeto de restauro.
Perillo, que se tornou sócio do Jockey em 2019 e conselheiro em 2022, tem atuado para tentar renegociar as dívidas fiscais do clube. O UOL, porém, aponta que parte dos recursos públicos teria sido direcionada a empresas goianas ligadas a familiares e ex-assessores do ex-governador — entre elas, a Elysium Sociedade Cultural, criada por decreto dele em 2014.
O tucano nega qualquer envolvimento, classificando as denúncias como “leviandade”. Já o Jockey Club acusa a Prefeitura de perseguição, após o município rejeitar as prestações de contas do TDC e instaurar uma auditoria.
A Elysium, por sua vez, afirma que todos os contratos seguem as normas legais.
O caso, entretanto, tem peso político: com 15,6% das intenções de voto em Goiás (AtlasIntel), Perillo vê o episódio como uma bomba-relógio às vésperas da eleição de 2026.
Mais do que um escândalo local, o episódio coloca em xeque a credibilidade dos incentivos fiscais culturais e a preservação de um patrimônio histórico nacional. A auditoria da Prefeitura de São Paulo pode determinar a devolução dos valores e abrir caminho para investigações federais sobre o uso dos recursos.