Avança discussão sobre profissionalização da arbitragem no futebol

O futebol brasileiro movimenta bilhões todos os anos. Só a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por exemplo, registrou uma receita de mais de R$ 1 bilhão em 2023. Recém-contratado pelo Corinthians, o holandês Memphis Depay receberá cerca de R$ 3 milhões mensais, o maior salário entre os jogadores em atuação no Brasil. Enquanto isso, os árbitros, peças fundamentais da engrenagem do esporte, seguem em situação amadora. A  criação do vínculo de emprego entre árbitros e federações esportivas é prevista em um projeto de lei (PL 864/2019), que foi tema de debate nesta quarta-feira (18) no Senado.

Um grupo de trabalho criado pela Comissão de Esporte (CEsp) começou a debater o projeto do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). A ideia é apontar sugestões ao relator da proposta, o senador Romário (PL-RJ), que também preside o colegiado.

— Quero destacar a necessidade urgente de profissionalizar os árbitros, os únicos ainda que não são profissionais do futebol. É essencial ouvirmos todos os envolvidos, especialmente os árbitros e suas entidades — disse Romário em vídeo exibido durante a reunião.

Na prática, suas regras de trabalho são definidas pela Lei 9.615, de 1998, conhecida como Lei Pelé. Tal lei define os árbitros como trabalhadores autônomos, ou seja, sem vínculos empregatícios formais com federações estaduais ou com a CBF, por exemplo. A Lei Geral do Esporte também prevê que não há subordinação de natureza laboral entre o árbitro e a entidade desportiva que o contrata.

Sem terem remuneração fixa, os árbitros são escalados para cada partida por sorteio, sendo pagos conforme o número de jogos que apitam. Para os debatedores, apesar de fundamentais para o futebol, os árbitros ficam à margem do mercado bilionário.

Árbitro de futebol há quase 25 anos e representante da Associação de Árbitros de Futebol do Brasil (Abrafut), Anderson Daronco apontou que a profissionalização é uma antiga luta da categoria que pode impactar positivamente no desempenho dentro de campo.

— Em um esporte em que se tem um poder de investimento cada vez maior e em que se tem uma repercussão cada vez maior de todas as nossas decisões, é inadmissível que a arbitragem continue na sua condição amadora. O que a gente está buscando aqui é um entendimento para que o árbitro se faça presente nesse mundo profissionalizado que é o futebol, em toda essa engrenagem. Muitas vezes, alguns não têm condição de ter um preparador físico adequado, de ter um profissional de fisioterapia adequado, de ter um profissional do ramo da psicologia adequado — disse.

Atualmente, os árbitros recebem como autônomos. Para a procuradora do Ministério Público do Trabalho Priscila Dibi Schvarcz é evidente o vínculo empregatício entre os “juízes”, como são popularmente conhecidos, as federações e a CBF.

— A autonomia permitiria, se fosse um efetivo autônomo, que ele pudesse estabelecer as regras daquele jogo, que ele pudesse determinar o horário, o início, o fim, quanto tempo aquela partida vai durar. A autonomia é tudo o que não existe na profissão de árbitro de futebol. A gente está falando de uma categoria de trabalhadores que hoje não tem previsibilidade de remuneração. É uma categoria, hoje, que está à margem da legislação — afirmou.

Filho de Dalmo Bozzano, ex-árbitro de futebol, o advogado Rafael Bozzano destacou que muitos árbitros precisam equilibrar a atividade com outra profissão.

— Para aquele jogo de final de semana, às vezes pode ser que tenha um árbitro que não está naquela sintonia porque ele tem que desempenhar uma profissão de advogado, de dentista, de corretor de imóveis durante a semana. E lá no sábado ele vai parar, vai pensar: “Agora eu tenho que apitar esse jogo aqui.”. Falta o reconhecimento, seja por meio do trabalhador avulso, seja de uma outra figura — defendeu.

Ex-árbitro de futebol e ex-deputado federal, Evandro Rogério Roman apontou que a profissionalização é um desafio que aumenta com a regulamentação das apostas esportivas de quota fixa, as chamadas bets.

— A movimentação financeira que vai passar a ter, a partir de 1º de janeiro, com essas apostas esportivas, é um divisor de águas, de se dizer o seguinte: Olha, gente, ou remunere melhor os árbitros, ou trabalhe melhor com eles, deem a eles uma condição profissional, ou estaremos aqui discutindo mais uma CPI de escândalos — apontou.

De acordo com o coordenador do grupo, o consultor legislativo Vicente Pithon, uma das ideias é estudar os modelos adotados na profissionalização em outros países.

— A gente tem jogadores, treinadores, preparadores, médicos, jornalistas, agora dirigentes cada vez mais profissionais. E os árbitros como ficam nessa equação? Não é uma questão fácil. Eu acho que a gente tem que enfrentar questões do direito do trabalho, questões relacionadas à própria regulamentação das profissões, questões práticas como remuneração e estabelecimento de vínculos formais de trabalho — acrescentou.

Fonte: Agência Senado

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao continuar navegando, ou clicar em "Prosseguir, você concorda com tal monitoramento. Para mais informações, consulte a nossa Política de privacidade.