O verde que colore Brasília é fruto de décadas de cuidado, pesquisa e paixão. Muito além do paisagismo, as árvores de pau-brasil cultivadas pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) representam memória viva, resistência ambiental e um compromisso contínuo com o futuro da capital federal.
Segundo estimativas da Novacap, há cerca de 7 mil árvores de pau-brasil plantadas em áreas urbanas do Distrito Federal, como no Eixo Monumental, Águas Claras, Lago Sul, Lago Norte, Parque da Cidade, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia e em unidades de conservação sob gestão do Instituto Brasília Ambiental. Ou seja, a presença da árvore é marcante e crescente, em áreas recuperadas e nos canteiros centrais. A floração ocorre entre agosto e setembro.
Um exemplo emblemático está na Quadra 216 da Asa Sul, onde um cinturão com mais de 200 exemplares foi identificado por uma dissertação de mestrado da Universidade de Brasília. As árvores, plantadas majoritariamente nos anos 1980, reforçam a presença do pau-brasil no coração da cidade.
A inserção da espécie no Cerrado exigiu décadas de adaptação. “Leva-se em média 15 a 20 anos para que uma árvore atinja o porte ideal e inicie a floração, que ocorre entre setembro e outubro”, explica a chefe da Divisão de Agronomia da Novacap, Janaina González. Por ser ameaçada de extinção, seu corte é proibido sem autorização ambiental, o que eleva ainda mais o valor do trabalho de conservação.
Além de sua beleza simbólica, o pau-brasil tem papel ecológico relevante: ajuda a recompor áreas verdes, atrai fauna nativa e reforça o valor da biodiversidade urbana. Com madeira avermelhada antes usada em tinturas e móveis, fator que quase levou à extinção, a espécie hoje é símbolo de renascimento e de cuidado com o meio ambiente.
Atuação da Novacap
Desde a fundação da cidade, a Novacap já plantou cerca de 5,5 milhões de árvores de diversas espécies em todo Distrito Federal. “Anualmente, nossos dois viveiros produzem mais de 200 espécies de árvores, além de flores, palmeiras e arbustos. Somos o principal agente arborizador do DF”, destaca o presidente da companhia, Fernando Leite.
A técnica agrícola Janaina González, na Novacap desde 1998, acompanhou todas as etapas de produção, desde a coleta de sementes até o plantio. Ela também participou da introdução de espécies novas no DF, como o angico-farinha-seca, nativo do Cerrado, mas ausente na capital até então. “Hoje conseguimos ver mudas que saíram pequenas do viveiro e estão aí, ornamentando a cidade. É muito gratificante”, relata.
O diretor das Cidades da Novacap, Raimundo Silva, lembra que o Cerrado original precisou ser removido para erguer os palácios e edifícios da nova capital. “Partimos praticamente do zero. Hoje, temos milhões de árvores plantadas, a grande maioria produzida nos nossos viveiros, que são abertos à visitação mediante agendamento”, afirma.
Pioneirismo
O esforço começou nos primeiros anos da capital, com nomes como o do agrônomo Ozanan Coelho, que chegou em 1969 e participou da ornamentação de áreas como a Praça do Buriti. “A arborização de Brasília foi uma epopeia, como a própria construção da cidade”, afirmou uma vez o ex-funcionário da Novacap que é conhecido como o Jardineiro de Brasília.
“Sou muito suspeito para falar, mas eu acho que a paisagem de Brasília é absolutamente singular. Em Brasília você vai ver ipê-branco, amarelo, roxo, quaresmeira, copaíba, jequitibá-do-cerrado, landim, pombeiro… Você vai ver coisas que não existem nas outras cidades, uma coisa absolutamente só de Brasília”, disse Ozanan Coelho em uma de suas últimas entrevistas, concedida em 2009. Ozanan faleceu em 2016, aos 72 anos, mas deixou raízes profundas na paisagem brasiliense.
As árvores que embelezam Brasília são fruto de um trabalho coletivo e paciente. E, como toda herança viva, precisam ser protegidas. Se presenciar ações como cortes ilegais, podas não autorizadas ou roubo de mudas, denuncie pelo 190 ou pela Ouvidoria do GDF no 162.
*Com informações da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap)