O artesanato como ferramenta para salvar vidas

Uma vez por semana, o espaço do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) do Itapoã vira um grande ateliê. Entre linhas e agulhas, profissionais de saúde e pacientes colocam as habilidades manuais em prática na confecção de cachecóis, mandalas, fuxicos e trabalhos com crochê. A sessão, que deveria durar duas horas, muitas vezes se estende até o final da tarde. “O horário de início é às 14h, mas, à medida que os pacientes vão chegando, já iniciamos os trabalhos e não percebemos o tempo passar”, detalha Vaniuza Alves de Oliveira, técnica em enfermagem e uma das organizadoras do projeto.

A linhaterapia teve início em 2020 e hoje conta com a participação de cerca de 15 pessoas. Além de gerar renda, o programa funciona como terapia: “O trabalho manual está ligado ao exercício mental. O movimento proporciona momentos de concentração e de relaxamento”, explica a enfermeira Eleni Alves Sardinha. Segundo ela, mais do que uma profissão, “a sessão permite aos participantes descontrair e despertar um sentimento de pertencimento. Eles sentem que estão sendo reconhecidos pelos trabalhos. É transformador”.

Vida por um fio

Um dos pacientes mais ativos do projeto é Marcos Roberto Rocha da Silva. Com 44 anos e morador do Paranoá, ele conta que frequentou o Caps AD durante cinco anos e conseguiu bons resultados. Teve, contudo, uma recaída no uso de drogas ilícitas e de álcool, e, junto a isso, conheceu a depressão de perto. “Cheguei ao meu limite. Não via mais sentido em continuar vivendo, mas resolvi vir mais uma vez ao Caps e fui muito bem acolhido. Foi nesse momento que comecei a trabalhar com as mandalas e minha vida mudou”, relata, emocionado.

Desde então, a caminhada dele tem sido de sucesso. Abstêmio há cinco anos, Marcos, hoje, auxilia as pessoas que chegam à oficina de linhaterapia. A especialidade dele são as mandalas, mas também se envolve com diversos tipos de trabalhos manuais (todos envolvendo linhas) e comercializa em feiras espalhadas pelo Distrito Federal. “O trabalho realizado aqui no Caps é fundamental para que a gente consiga ver uma solução para os nossos problemas. Não tenho palavras para agradecer o quanto foi significativo para mim”, enfatiza.

Reuniões são tão produtivas que duram mais do que o previsto | Fotos: Illa Rachel/Agência Saúde

Patrícia Araújo Alves, de 22 anos, concorda com Marcos. Durante a adolescência, ela desenvolveu depressão e passou a fazer uso abusivo de drogas ilícitas. Por orientação da mãe, decidiu frequentar o Caps AD e relata que a assistência que recebeu foi o ponto principal para que pudesse mudar os rumos de sua vida. O cachecol foi o primeiro trabalho que fez, mas atualmente seu foco está no tricô com malha. “Minha mãe sempre foi artesã e eu nunca demonstrei interesse. Quando cheguei e entendi que isso poderia fazer a diferença no meu caminho, decidi que iria me dedicar ao máximo”, explica a estudante. Patrícia pretende comercializar os produtos e conciliar a produção às aulas de pedagogia na Universidade de Brasília (UnB).

Formalização

O trabalho artesanal proposto pelo Caps AD foi idealizado como forma de terapia, mas também como uma opção de obtenção de  renda. “Muitos pacientes não possuem nenhuma fonte de receita. Aprender esse ofício é uma maneira deles conseguirem ganhar dinheiro para suprir suas necessidades”, explica Eleni.

Para formalizar esse trabalho, o Caps AD firmou parceria com a Secretaria de Turismo do DF, que, por sua vez, disponibilizou uma equipe para ir até o centro, a fim de cadastrar os pacientes como artesãos. “Essa formalização permite o reconhecimento do profissional e abre portas para que possam participar de eventos e feiras”, destaca a coordenadora do Centro de Atendimento ao Turista da Secretaria de Turismo, Gizelma Fernandes. Ela explica que os artigos produzidos são avaliados, desde a técnica utilizada até o acabamento, seguindo as diretrizes do Programa de Artesanato Brasileiro.

Os registros foram realizados em março deste ano, na sede do Caps AD. Na ocasião, estiveram presentes também pacientes dos Caps II Paranoá, cuja sede fica no Hospital da Região Leste (HRL).

O Caps AD do Itapoã funciona dentro da Administração Regional do Paranoá e atende das 7h às 18h, de segunda a sexta-feira. O Caps é um serviço público especializado em saúde mental que, por meio de diversas unidades, atende pessoas com sofrimento emocional grave, incluindo aquele decorrente do uso de álcool e outras drogas.

O local oferece atendimento multidisciplinar, que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre outros especialistas. Após avaliação inicial, a equipe formula um plano terapêutico com estratégias de cuidado, adequadas à necessidade de cada usuário, visando o seu processo de tratamento e reabilitação psicossocial. Os atendimentos acontecem individualmente e/ou em grupos.

A linhaterapia funciona todas as quartas-feiras, das 14h às 16h. Para mais informações, acesse aqui.

*Com informações da Secretaria de Saúde

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